Ouvi falar no Pagamento por
Serviços Ambientais (PSA) pela primeira vez no programa Globo Rural no ano de
2008. Na época a matéria mostrava a cidade de Extrema, em Minas Gerais, onde o
Executivo e o Legislativo Municipal se uniram e criaram uma Lei para a proteção
das nascentes do município e o dono da propriedade (onde existe nascentes)
recebia um determinado valor da prefeitura para proteger essas nascentes, além
de se comprometer em reflorestar possíveis áreas degradadas com o plantio de
árvores nativas.
Lembro que a matéria repercutiu
em todo o Brasil com o projeto ‘Conservador das Águas’, pois o município
conseguiu replantar mais de 150 mil árvores com a fiscalização da prefeitura,
que auxiliava através da Secretaria Municipal de Agricultura e Recursos
Hídricos, com arame para cercar as áreas de nascentes, protegendo do pisoteio
do gado, mudas de plantas nativas, além de assistência técnica e o repasse de
um determinado valor para o proprietário.
No início, em 2008, o projeto em
Extrema iniciou contemplando 40 pequenos agricultores, cinco anos depois, em
2013, o número chegou a 150 pequenos agricultores que reflorestaram parte das
suas propriedades e viram as nascentes multiplicarem a vazão de água. Com essa
ação a cidade ficou conhecida no Brasil e no mundo.
Em 2009 fiz um artigo falando
sobre o projeto de Extrema e o Pagamento por Serviço Ambiental (PSA) e resolvi
conhecer os locais onde existem nascentes em nosso município. Na época o
ambientalista Antônio Carlos, o popular Katende, estava fazendo esse
levantamento com Pedro Gama e Abel de Furtuoso, dois moradores e donos de
propriedades rurais no topo da Serra do Córrego Grande.
Na época ajudei a catalogar 64
nascentes, fizemos duas oficinas ecológicas no Assentamento Tanajura e um
Seminário na Câmara de Vereadores, onde foi abordado o tema. O prefeito da
época gostou do que viu e contratou profissionais qualificados que fizeram um
extenso relatório sobre essas nascentes e a sub-bacia hidrográfica do local.
Infelizmente o projeto não saiu do papel e uma década depois muitas das
nascentes catalogadas secaram e outras tantas estão desprotegidas, com sol a
pino e sendo pisoteadas pelo gado.
Onde entra o PSA nessa história
em Ibicaraí?
O Pagamento por Serviço Ambiental
precisa virar Lei em nossa cidade, e para isso o cidadão e eleitor precisa
cobrar do seu político local que coloque na pauta e no seu programa de governo
esse assunto. Só assim vamos proteger nossas nascentes e o nosso ‘ouro branco’,
a água que bebemos.
Como o município pagaria por esse
serviço para o futuro ‘produtor de água’?
Nós sabemos que apesar da água
ser um bem comum, ela é captada, tratada e disponibilizada para a população
através do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE). Essa autarquia seria
responsável por captar também os recursos para o pagamento para os futuros
‘agricultores de água’, e aí entra os poderes Executivo e Legislativo, que
iriam legitimar – através de Lei – uma Taxa de Preservação de Nascente (TMN),
que seria embutida na contra de água de todos os moradores. O valor seria
pequeno e por faixa, da mesma forma como é cobrado á água em nosso município
através da conta que chega mensalmente nas residências.
Esse dinheiro arrecadado
mensalmente passaria pelo crivo do Conselho Municipal de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos e ficaria em uma conta específica para pagar os agricultores
de água, além de investimento na compra de mudas de plantas nativas, arames e
mão de obra para cercar as áreas ao redor das nascentes. Em Extrema o cerco era
feito em um raio de 25 metros das nascentes e o proprietário – com apoio
técnico e logístico – replantava a área cercada. Vale dizer que não é uma
desapropriação, a área cercada continua sendo do proprietário da terra. Ele vai
ganhar só para proteger a nascente. Tudo dentro da lei, com contrato firmado e
registrado em cartório.
Vale ressaltar que desde 2016, em
Ibirapitanga, cidade localizada na microrregião cacaueira, aqui no Sul da
Bahia, já funciona o PSA e o ‘produtor de água’ ganha para proteger as
nascentes e o município e a população ganham com a garantia de água de
qualidade e em grande quantidade.
Quero deixar claro mais uma vez
que esse artigo retrata o que penso. Não sou o dono da verdade e acho que toda
unanimidade é burra, mas precisamos até do contraditório para debater determinados
assuntos de interesse da população. Acredito que água é vital para toda ou
qualquer pretensão humana em habitar um determinado local.
Eu acredito que o PSA é o futuro
das futuras gerações.
Arnold Coelho
Morador de Ibicaraí e
consumidor de água
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