Do - Diário do Poder - Em manifestação de 70 páginas, o Ministério
Público Federal defende a competência do juiz federal Sérgio Moro para julgar o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e afirma que o petista ‘participou
ativamente do esquema criminoso’ na Petrobrás. O documento, de 3 de agosto, é
subscrito por quatro procuradores da República que compõem a força-tarefa da
Operação Lava Jato.
É o mais contundente parecer já elaborado pelo Ministério Público
Federal contra Lula.
“Considerando os dados colhidos no âmbito da Operação Lava Jato, há
elementos de prova de que Lula participou ativamente do esquema criminoso
engendrado em desfavor da Petrobrás, e também de que recebeu, direta e
indiretamente, vantagens indevidas decorrentes dessa estrutura delituosa”,
acusam os procuradores.
A manifestação é uma resposta à ofensiva da defesa de Lula que, em
exceção de incompetência, alega parcialidade do juiz Moro para conduzir as
investigações contra o ex-presidente. A Lava Jato suspeita que Lula é o
verdadeiro proprietário do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), e do tríplex
164-A no Guarujá – os advogados de Lula negam taxativamente que ele possua tais
propriedades. A investigação também mira a LILS, empresa de palestras do
ex-presidente.
A defesa de Lula alega que inexistem motivos para que Moro ‘seja
competente para processar e julgar os feitos que o envolvem, em razão de os
fatos supostamente delituosos – aquisição e reforma de imóveis nos municípios
de Atibaia e Guarujá e realização de palestras contratadas – consumaram-se no
Estado de São Paulo, não apresentando conexão com os fatos investigados no âmbito
da Operação Lava Jato’.
Os procuradores Julio Carlos Motta Noronha, Roberson Henrique Pozzobon,
Jerusa Burmann Viecili e Athayde Ribeiro Costa afirmam que há ‘fortes indícios’
de envolvimento de Lula no esquema Petrobrás.
“Contextualizando os fortes indícios, diversos fatos vinculados ao
esquema que fraudou as licitações da Petrobrás apontam que o ex-presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) tinha ciência do estratagema
criminoso e dele se beneficiou”, acusam os procuradores.
A peça é um verdadeiro libelo e remonta ao episódio do Mensalão, onze
anos atrás, primeiro escândalo da era Lula.
“Considerando que uma das formas de repasse de propina dentro do
arranjo montado no seio da Petrobrás era a realização de doações eleitorais,
impende destacar que, ainda em 2005, Lula admitiu ter conhecimento sobre a
prática de “caixa dois” no financiamento de campanhas políticas”, destacam.
Os procuradores observam que Lula, em recente depoimento à Polícia
Federal, ‘reconheceu que, quanto à indicação de Diretores para a Petrobrás
“recebia os nomes dos diretores a partir de acordos políticos firmados”’.
“Ou seja, Lula sabia que empresas realizavam doações eleitorais “por
fora” e que havia um ávido loteamento de cargos públicos. Não é crível, assim,
que Lula desconhecesse a motivação dos pagamentos de “caixa 2” nas campanhas
eleitorais, o porquê da voracidade em assumir elevados postos na Administração
Pública federal, e a existência de vinculação entre um fato e outro”, acusam.
Segundo os procuradores, ‘a estrutura criminosa perdurou por, pelo
menos, uma década’. A Lava Jato investiga o esquema de corrupção, cartel e
propinas instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014.
A peça lista quadros importantes do PT, antigos aliados de Lula, muitos
deles acabaram na prisão da Lava Jato.
“Nesse arranjo, os partidos e as pessoas que estavam no Governo
Federal, dentre elas Lula, ocuparam posição central em relação a entidades e
indivíduos que diretamente se beneficiaram do esquema: José Dirceu, primeiro
ministro da Casa Civil do Governo de Lula, pessoa de sua confiança, foi um dos
beneficiados com o esquema; André Vargas, líder do Partido dos Trabalhadores na
Câmara dos Deputados durante o mandato de Lula, foi um dos beneficiados com o
esquema; João Vaccari, tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, legenda pela
qual Lula se elegeu, foi um dos beneficiados com o esquema; José de Filippi
Júnior, tesoureiro de campanha presidencial de Lula em 2006, recebeu dinheiro
oriundo do esquema; João Santana, publicitário responsável pela campanha
presidencial de Lula em 2006, recebeu dinheiro oriundo do esquema.”
Os procuradores se reportam também a inquéritos abertos no Supremo
Tribunal Federal e relatam que ‘partidos políticos da base aliada do Governo
Federal de Lula e seus filiados receberam recursos oriundos do esquema’.
“Executivos das maiores empreiteiras do País, que se reuniam e viajavam
com Lula, participaram do esquema criminoso, fraudando as licitações da
Petrobrás, e pagando propina. Considerando que todas essas figuras, diretamente
envolvidas no estratagema criminoso, orbitavam em volta de Lula e do Partido
dos Trabalhadores, não é crível que ele desconhecesse a existência dos
ilícitos”, destaca o documento.
A Procuradoria afirma que ‘mesmo após o término de seu mandato presidencial,
Lula foi beneficiado direta e indiretamente por repasses financeiros de
empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato’.
“Rememore-se que, no âmbito desta operação, diversos agentes públicos
foram denunciados por receber vantagem indevida mesmo após saírem de seus
cargos. Além disso, é inegável a influência política que Lula continuou a
exercer no Governo Federal, mesmo após o término de seu mandato (encontrando-se
até hoje, mais de cinco anos após o fim do seu mandato com a atual Presidente
da República). E, por fim, não se esqueça que diversos funcionários públicos
diretamente vinculados ao esquema criminoso, como os Diretores da Petrobrás
Paulo Roberto Costa e Renato Duque, foram indicados por Lula e permaneceram nos
cargos mesmo após a saída deste da Presidência da República.” (AE)
Expressão Unica
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