Em sua primeira
entrevista após assumir o cargo, o novo ministro da Saúde, o médico e deputado
federal Marcelo Castro (PMDB-PI), disse à Folha que, diante da restrição
orçamentária, deve atrasar o repasse de recursos para hospitais e programas
como o Farmácia Popular já em dezembro deste ano.
A previsão é que 50% da
verba destinada para a área de média e alta complexidade, que abrange o
atendimento em pronto-socorro e realização de cirurgias e exames, seja paga
apenas no início de janeiro.
Segundo Castro, o novo
modelo de cálculo de financiamento da Saúde, aprovado neste ano pelo Congresso,
deve trazer um deficit de ao menos R$ 7,5 bilhões em recursos para 2016. “O que
hoje está ruim vai piorar.”
Para obter recursos, o
ministro defende a aprovação de uma nova CPMF compartilhada entre União,
Estados e municípios –em uma proposta na qual os últimos, porém, teriam a
arrecadação exclusivamente para a saúde.
Na entrevista, o
ministro defendeu “intensificar” o Mais Médicos e disse que novos programas
como o Mais Especialidades, bandeira de Dilma Rousseff na sua campanha,
dependerão da liberação de recursos.
Folha – O senhor disse
a secretários que não haverá recursos para pagar todos os serviços contratados
neste ano.
Marcelo Castro – No ano
passado isso já aconteceu. O pacote de ações de média e alta complexidade [como
hospitais e Santas Casas] só foi pago 70% em dezembro e 30% no dia 2 de
janeiro. Neste ano, não temos hoje dinheiro para pagar alguns serviços.
Quais serviços?
Média e alta
complexidade (MAC), Farmácia Popular e outros mais. Para MAC, só temos recursos
para 50% do que foi faturado em dezembro [cerca de R$ 3 bilhões; no caso da
Farmácia Popular, cujo repasse mensal é de R$ 260 milhões, o percentual a ser
pago ainda será definido, informa o ministério].
Estamos buscando
alternativas para ver se a gente consegue pagar tudo este ano. Se não
conseguirmos, não trará transtorno porque em janeiro nós pagaremos. A grande
preocupação não é de quem está prestando o serviço, é do próprio ministério,
porque vamos ter em 2016 um Orçamento menor.
Qual a previsão para o
ano que vem? Faltará recursos?
O Orçamento está sendo
construído ainda. O problema de 2016 é que, pela nossa sistemática que é a
emenda constitucional 86 [orçamento impositivo, aprovado pelo Congresso neste
ano e que mudou o financiamento da saúde] o governo está sendo obrigado a
gastar em ações e serviços públicos de saúde, que são despesas obrigatórias,
13,2% das receitas correntes líquidas.
Isso dá um orçamento
para a Saúde de R$ 100,2 bilhões [o deste ano, sem os cortes orçamentários, era
R$ 121 bilhões]. Se não tivesse essa regra e a gente aplicasse apenas a
inflação do Orçamento deste ano para o do ano que vem, ele seria de R$ 107,7
bilhões. Essa regra nova já traz um deficit de R$ 7,5 bilhões. Se o Orçamento
deste ano não tem dinheiro para pagar tudo, e se o do ano que vem é menor, como
vai ser?
Nesse momento, não dá
para pensar em programa novo ou aumentar despesas. Vamos manter o que está
funcionando e não deixar de prestar serviços.
Ainda assim, pode haver
cortes? A proposta enviada ao Congresso para 2016 também previa menos recursos
para hospitais e Farmácia Popular.
Estamos conversando com
a área econômica, com o relator do orçamento e Casa Civil. O argumento central
é que um ministério que vai fazer uma obra física pode fazer em outro momento.
O nosso não pode interromper os serviços que vem prestando. Temos certeza que a
área econômica do governo vai ser sensível a isso. A saúde tem que ter atenção
especial. Estamos tratando de vidas humanas. Os serviços já estão contratados.
Não podemos chegar em outubro do ano que vem e dizer: parem o tratamento de
câncer, as cirurgias e as hemodiálises e vamos recomeçar em janeiro.
E qual a solução?
Mais recursos. A área
econômica tem uma proposta que é a CPMF. Ela é mais importante no momento para
os Estados e municípios, principalmente para os municípios, que estão gastando
além do mínimo constitucional porque são premidos pela demanda da sociedade. E
entraria para melhorar a saúde. Há um consenso de que padecemos de dois
problemas centrais na saúde: subfinanciamento e problemas de gestão, que
envolve inclusive a má aplicação e o desvio de recursos. Está aí a CPI das
órteses e próteses.
O senhor tem conversado
com a presidente sobre a CMPF? Deve levar para a saúde? O Planalto já descarta
que seja aprovada neste ano.
O que estamos
argumentado junto à área econômica é que a CPMF proposta inicialmente para a
Previdência vá para a seguridade social (saúde, previdência e assistência
social), para União e Estados, e exclusivamente para a saúde para municípios.
Mas e se não passar? Há
outras alternativas estudadas?
O governo não fecha
suas contas sem aporte de recursos, sem mais impostos. Seja CPMF, CIDE (tributo
cobrado sobre combustíveis), repatriação de recursos ou IOF.
Quais devem ser as
prioridades de sua gestão?
Vamos priorizar a
atenção básica. E vamos também fazer ajustes no cartão SUS, de modo que o
paciente possa levar seu prontuário para onde for. Isso vai ser integrado com
secretarias de saúde e muito provavelmente com os planos de saúde. Também vamos
investir na regionalização. O ideal é que o paciente só saísse da região no
caso de doenças graves.
O Mais Médicos vai
mudar? Cubanos devem continuar?
Vai ser intensificado.
É um programa muito bem avaliado e de grande alcance social.
Sem recursos, como fica
o Mais Especialidades?
Ele já está concebido,
mas não funciona ainda na prática. Vamos ver quando é que vamos ter recursos.
Nossa prioridade no momento é manter funcionando o que já está funcionando.
(Via Folha e agência)
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