Dilma Rousseff é a
primeira presidente da República a ter suas contas de gestão reprovadas pelo
TCU (Tribunal de Contas da União).
Fazendo o trabalho pela
80ª vez, o tribunal considerou por unanimidade (8 votos) que a presidente
descumpriu no ano passado a Constituição e as leis que regem os gastos
públicos, o que impede a aprovação da prestação de contas de 2014.
Com isso, ainda que não
haja nenhum efeito imediato para Dilma, politicamente sua situação se complica.
O principal pedido de impeachment em análise hoje no Congresso se ampara
justamente nas "pedaladas fiscais", um dos itens reprovados nesta
quarta (7).
Não por acaso, o
governo tentou ao máximo adiar a votação. Não conseguiu a suspensão da sessão
no STF (Supremo Tribunal Federal) nem que o TCU considerasse relator do caso, o
ministro Augusto Nardes, suspeito para votar. O Planalto o acusa de ter agido
de ter revelado seu voto, além de agir de forma politizada.
Agora, a AGU
(Advocacia-Geral da União) irá voltar ao STF contra Nardes.
A análise que o TCU faz
das contas do governo é uma obrigação constitucional. O tribunal atua como uma
espécie de auditor externo no balanço de uma empresa, checando se ela cumpriu a
legislação ao realizar seus gastos.
O parecer do órgão será
enviado ao Congresso, que é quem terá a palavra final dizendo se aprova ou não
essa prestação. Os parlamentares podem ou não acatar a decisão do tribunal.
Além do risco de
colocar água no moinho do impeachment, a única implicação automática para Dilma
é que, se o Congresso mantiver o parecer, ela estará impedida ae concorrer numa
próxima eleição.
A oposição usará a
rejeição para reforçar a tese de que a presidente deve ser retirada do cargo
por descumprir a lei. Isso porque entre as irregularidades apontadas pelo órgão,
algumas, em tese, podem ser atribuídas a atos assinados pela mandatária, como
decretos aumentando despesas sem cobertura de receita e sem aprovação dos
parlamentares, o que é proibido.
O governo, por sua vez,
descarta que a rejeição crie qualquer condição para o impeachment.
RELATÓRIO
O relatório de mais de
1.400 páginas fez uma análise minuciosa dos gastos públicos de 2014. Num
primeiro momento foram apontadas 15 irregularidades que resultaram em
distorções de R$ 106 bilhões. As mais graves são referentes ao uso de bancos
públicos para pagar despesas de programas sociais e de empréstimos a empresas e
agricultores, as chamadas "pedaladas"; e a maquiagem nos balanços e
orçamento públicos para evitar cortar gastos públicos em 2014, ano em que a
presidente disputava a reeleição.
"Após exame
detalhado, ficou evidenciado que diversos procedimentos afrontam de forma
significativa, além dos artigos da lei, princípios objetivos e comportamentos
preconizados pela Lei de Responsabilidade Fiscal", disse Nardes classificando
o cenário de 2014 como de "desgovernança fiscal".
A defesa do governo de
que os atos eram legais e já vinham sendo praticados não foi aceita para 12
irregularidades.
Na vida prática, as
descobertas do TCU são consideradas pelos integrantes do órgão como a origem da
crise econômica pela qual o país vive. O governo vinha escondendo há alguns
anos que gastava mais do que arrecadava, mesmo descontado o pagamento dos juros.
Fazia isso sem permissão do Congresso e dizendo o oposto, que estava
economizando.
Para os ministros, a
explosão dos gastos públicos pode ser a responsável, por exemplo, pelo aumento
da inflação. Por outro lado, a maquiagem nos gastos criou a desconfiança dos
agentes econômicos sobre as reais condições do governo de financiar sua dívida,
elevando o valor do dólar e das taxas juros, o que ajuda aprofundar ainda mais
a crise na economia.
Com dívidas a pagar de
anos anteriores, que estão sendo quitadas este ano, o governo agora tem que
cortar gastos, dificultando sua ação como motor do crescimento. E ainda vai
precisar criar impostos para colocar tudo no lugar.
Fonte; Folha de São Paulo.
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