Quando saiu de casa, na
noite fria do dia 28 de agosto de 2014, com a camisa do Grêmio, Patrícia
Moreira não sabia que sua vida viraria do avesso. Da arquibancada da Arena
Grêmio, para o jogo entre o Tricolor gaúcho e o Santos, pela Copa do Brasil, a
torcedora xingou o goleiro Aranha, então no Peixe, foi flagrada por câmeras de
TV e viu o mundo desmoronar por causa da ofensiva palavra de seis letras.
Perdeu o emprego, teve a casa incendiada, sofreu agressões verbais e se exilou
do mundo. Seis meses após o caso, e de ser indiciada por injúria racial com
outros seis torcedores, ela conseguiu um novo emprego, mudou a aparência e
tenta recomeçar a partir do erro.
— Ela mudou a
aparência, mexeu no cabelo e de vez em quando usa gorro para se disfarçar,
quando não está tão calor. Quer manter o anonimato e evitar qualquer xingamento
ou agressões — afirmou o advogado da jovem, Alexandre Rossatto. — As semanas
variam entre evoluções e quedas, com todos os sintomas de uma pessoa
depressiva, de altos e baixos.
A rotina diária da
torcedora se resume a sair de casa, pegar um ônibus, ficar oito horas no trabalho
e retornar para o “exílio”. Nada de festas, amigos que frequentem sua casa ou
qualquer forma de distração. Nem mesmo as redes sociais a jovem voltou a
utilizar por medo.
— A Patrícia não tem
feito nada, tem ficado só em casa, no canto dela. Os irmãos a pegam no fim de
semana para não ficar tão presa. Mas ela quer ficar quieta. Trocou telefone,
não tem rede social e só agora retomou o contato com alguns amigos — disse o
defensor da jovem.
Com a casa pichada e
incendiada em setembro, a jovem foi morar um tempo com os irmãos e agora vive
sozinha. Encontrou um emprego dentro da sua área, mas ainda é lembrada pelo
episódio lamentável por onde passa.
— Ela tenta refazer a
vida, está em um trabalho inferior ao anterior, mas é uma recolocação. Não é
mais ameaçada, mas ficou tachada de racista. No ônibus, as pessoas a
reconheceram, apontaram, mas como pega sempre o mesmo, já nem falam mais —
contou o defensor.
Patrícia se recusa a
falar com a imprensa, disse que sua privacidade já foi muito invadida, segundo
o advogado. Mas não esquece os insultos que cometeu, mesmo que garanta não ser
racista.
— Ela foi tão vítima
quanto o Aranha. Isso teve reflexo grande na vida dela. Ela tenta reverter,
mostrar quem realmente é — afirmou Rossatto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seus comentários, mas lembre-se que este blog é acessado por famílias, mulheres, e pessoas de bem.